Quando adentramos no deserto a primeira coisa que almejamos é sair dele e, o mais rápido, possível!!! Muitos já de imediato traçam um plano e um mapa para saída de emergência, porém isso nunca ocorre como planejado e aí vêm os conflitos, as indecisões, as frustrações e as fraquezas. Nessa caminhada muitos abandonam o trajeto e param inertes no meio do caminho sem ter a experiência de serem transformados. Graças a Deus não foi o que aconteceu com a nossa querida amiga Giovana, ela está passando pelo processo aprendendo cada dia mais e se tornando uma mulher segundo o coração de Deus. E nesse relato emocionante ela nos conta como está sendo seu processo e como Deus tem sido um pai maravilhoso em sua caminhada.
"Giovana fico muito feliz por pelo seu progresso. Lembro-me quando entrou no grupo você era uma mulher muito insegura, cheia de medos e protocolos, aos poucos esses medos foram dando lugar a fé e confiança. Isso foi uma reviravolta em sua vida e surpreendentemente você superou muitos obstáculos e hoje é uma mulher curada, forte e incentivadora. Que Deus abençoe sua vida e que logo o Senhor possa trazer a sua "cereja do bolo" e juntos com alegria vamos exaltar nosso pai por esse feito. Deus abençoe sua vida!!!"
Sol
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Começo este testemunho com gratidão a Deus por ter me escolhido para passar pelo deserto de forma “a saber o que havia no meu coração”! Gratidão a meus irmãos em Cristo pelo apoio espiritual e à Família Restaurar que me acolheu em agosto de 2022, embora eu acompanhasse o canal da Sol desde o primeiro mês do deserto. Minha gratidão a ela também, pela dedicação que tem com as coisas do nosso Papai! Nada no Reino de Deus é feito de maneira individual, Deus me cercou de pessoas para ser abençoada e para abençoar.
Nunca pensei que começaria meu testemunho antes de receber a cereja do bolo. Assim como nunca pensei que faria um culto de ação de graças antes de receber a resposta definitiva de Deus sobre minha família. Mas em novembro, quando dei por mim já tinha organizado um culto de ações de graça aqui na minha casa, no dia do meu aniversário, e foi lindo demais. E hoje estou escrevendo o testemunho da minha restauração pessoal para engrandecer o nome daquele que nos chamou para a Sua maravilhosa Luz, que é Jesus.
Eu acho que eu tinha algum tipo de superstição sobre testemunhar a restauração pessoal antes da restauração do casamento. Como se eu estivesse dizendo que Deus concluiu e cheguei até aqui (só), como se tivesse alcançado o segundo lugar (restauração pessoal) mesmo tendo corrido para alcançar o primeiro lugar (restauração do casamento). (Mal sabia eu que tudo que Deus faz é perfeito e não tem desvios nem erro de objetivo). Quando eu ouvia testemunhos de restauração pessoal, ficava pensando “Eu que não vou pensar assim, quero a restauração do meu casamento também, não ‘só’ a minha restauração!” (Santa ingenuidade de achar que a nossa restauração é ‘só’ algo que nos prepara para a restauração do casamento acontecer. Embora acredite que sim, prepara.).
De alguma maneira, eu sempre me senti desconfortável com essa coisa de ‘o deserto é pra você’ e o importante é ‘a nossa restauração’ e não a do casamento, pois ‘Deus não restaura casamento, Deus restaura pessoas’. Eu não gostava de ouvir essas explicações. Era como se eu aceitasse isso, estaria desistindo do casamento. Por isso, eu sonhava em fazer um culto de ação de graças quando o casamento fosse restaurado, como renovação dos votos junto com o testemunho, até dizia isso ao pastor.
Falo isso pra que fique claro que “a obra é Daquele que nos chamou” e Ele é fiel para concluir. E que sim, hoje eu entendo e aceito que o deserto é ‘sobre mim’ e que se Deus for até aqui com minha história matrimonial, Ele já me salvou, curou e transformou e serei capaz de prosseguir com Ele. Isso não quer dizer que eu desisti de orar, desejar e esperar a última palavra Dele, a resposta Dele sobre meu casamento. Porém, sou grata a Deus por me trazer a esse deserto com todo amor e me fazer passar por tantas lutas individuais, que dizem respeito apenas a mim e que não existe terapia nesse mundo capaz de fazer o que Deus fez comigo. Sei disso porque fiz muita terapia na vida e só Deus conseguiu me ajuda em certas questões.
Passei por muitas situações, pois meu esposo saiu de casa há quatro anos e oito meses, e passamos pelo menos dois anos em crise antes da saída dele. É bastante tempo! Nem em meus piores pesadelos eu me permitia imaginar passar todo esse tempo e por tudo que passei. Mas a dor que tememos passar, ao passarmos por ela percebemos que é quando temos a força e a cura. É quando vemos a misericórdia de Deus em seus atos ‘cirúrgicos’ em nossas vidas. É quando Ele tira aquilo que tem que tirar para que possamos sobreviver. É quando Ele nos deixa enfrentar aquilo que evitamos por medo de sofrer. É quando Ele nos dá força e é quando nos encontramos muito maiores depois de passarmos pela dor temida. E, no final, bem mais leves também. O medo, a dor, o apego nos torna pessoas pesadas, que fica carregando dívidas que os outros tem com a gente, que fica carregando ressentimento, que paralisa diante da falta de controle.
Tudo isso que estou dizendo eu evitava. Evitava admitir que teria que passar um tempo longo, evitava pensar em festejar a ‘minha’ restauração, pois ela não estaria completa sem a restauração do meu casamento. Evitava até ouvir testemunhos de desertos longos. Mas Deus nos faz passar pelas coisas que tememos, porque ficar evitando a dor vai nos tornando doentes emocionalmente, pessoas que não mudam, que não crescem, que ficam apegadas no passado, que vivem fora da realidade. Deus não nos quer numa bolha, Jesus disse “Não peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”. Ele vai passar com a gente pela tempestade. E lá no meio da tempestade, Jesus vai acalmar tudo. Hoje eu sei, que o mais importante é passar com Ele, seja o que for que tiver que passar para ser curada.
A primeira questão tratada foi a Dor. Jesus passou comigo pela dor emocional, foi muito forte. Eu sentia essa dor desde criança em certas fases da vida. No deserto ela voltou, era realmente muito forte. Mas Jesus me mostrou por meio do Espírito Santo que Ele é o bálsamo para esta dor. E me revelou que o causador da dor não era meu esposo, a falta dele ou o que ele fez contra nosso casamento, mas era uma dor que estava lá e que eu preenchia com meu esposo. Jesus me mostrou que meu esposo não poderia assumir esse lugar, preenchê-lo de verdade, eu o sufocaria se quisesse isso. E acho que já estava sufocando. Só Jesus poderia entrar ali e curar e habitar esse lugar por meio do seu Espírito.
Eu chorava muito, não conseguia parar de chorar, e um dia o Espírito Santo me disse claramente: “Essa dor é antiga, ela já apareceu em muitos momentos da sua vida, não lembra? Igualzinho, esse choro, Igualzinho. Entende que você não está chorando por seu marido, mas pelo abandono?” Esse foi o primeiro milagre que vivi, comecei a ouvir o Espírito Santo através da minha própria boca, ministrando sobre minha vida em detalhes. Essa ferida emocional que doía e que causava dor física até, que vinha de traumas de infância muito fortes, um dia por meio de uma oração do pastor da minha igreja Deus curou, primeiro limpou todo sangue podre que estava dentro dela. Ao ponto do pastor sentir o cheiro de podre, ele achou que eu estava fedendo, mas depois da oração ele foi investigar aquele cheiro pestilento e viu que não era de algo vindo de mim, mas era um cheiro espiritual.
Na mesma hora que o pastor orava e sentia o cheiro ruim emanando de mim, eu sentia um bálsamo escorrendo da minha cabeça pelo corpo, como um óleo quente. Era a segunda vez que eu sentia esse óleo quente, a primeira vez foi na semana que meu esposo saiu e que eu senti tanta dor que pedi socorro pra Deus tirar aquela dor, então senti pela primeira vez a presença quente do óleo do Espírito dentro de mim e a dor saiu na hora. E mais uma vez, eu reforço, essa dor me acompanhou a vida inteira, mas eu estava me enganando que era por causa da partida do meu esposo, quando me separei, por algum tempo, achei que tinha sido provocada por ele. Mas não foi. Entender isso me ajudou muito a levar a sério aquilo que Deus queria fazer ‘em mim’ e era preciso eu aceitar e crer que Ele era tudo que eu precisava.
A primeira coisa então foi a cura dessa dor que tinha causa na minha infância: abandono que eu sentia desde criança, diversos traumas de violência doméstica, gravidez e aborto precoce (12 anos) abuso sexual e abandono parental. Outra cura que Deus fez em mim foi a do medo. Quando uma criança que assume responsabilidades sobre adultos desde cedo fica muito amedrontada, ela parece corajosa e madura, mas no fundo ainda não tem estrutura pra isso, essa tensão causa muitas disfunções emocionais.
Aqui entra a segunda coisa que Deus me deu nesse deserto: a confiança Nele. Eu sempre fui de fazer as coisas e lutar, era muito sozinha pra cuidar das coisas desde criança, tinha que olhar por mim e pela minha mãe, protegia minha mãe, mas isso me dava muito medo de tudo. Eu era assombrada por medos e carregava o mundo nas costas pra me antecipar a qualquer coisa. Pensava em tudo que tinha que fazer, como me proteger, como ajudar minha mãe, por conta disso tudo sentia muito medo. Todo tipo de medo. Porque a gente não consegue prever e controlar tudo, tem coisas que acontecem.
Desde criança eu perdia o sono, ficava muito ansiosa, doente e sobrecarregada com as mínimas coisas. Mas neste deserto, Deus começou a me fazer perder o medo. Um a um. Medo de andar na rua, medo de acidente, medo de doença, medo do futuro, medo de insetos, medo de viajar. Foi aos poucos, um dia consegui matar uma barata, outro dia comecei a caminhar na rua a noite etc. Um dia fiz uma viagem em meio à pandemia, justo pra Manaus que estava com falta de oxigênio e muitas pessoas estavam morrendo.
Nessa data, me lembro que estava caminhando e orando sobre ir ou não ir, era um local por onde eu sempre caminhava, de repente Deus me abriu a visão e eu percebi que tinham recém pintado dos dois lados da ciclovia duas faixas vermelhas uma de cada lado, e eu estava caminhando no meio dessas duas faixas. Entendi que Deus disse que estava cuidando de mim, me protegendo. Eu posso garantir que o que Deus estava fazendo comigo era me curando das feridas da minha infância, uma a uma, Ele queria que eu confiasse Nele para cuidar de mim. Eu não precisava ficar tão alerta o tempo todo. Inclusive nessa viagem, viajei de avião sozinha. Algo que tinha muito medo. Poderia fazer uma lista aqui, mas basta dizer que hoje não sinto medo de nada. Sinto total confiança no nosso Deus com seu amor que diz “Ainda que uma mãe se esqueça de seu filho, eu nunca e jamais te abandonarei!”.
São muitas situações de amor, como respostas de oração que foram criando laços de amor que me atraíram a Deus. Às vezes um desejo pequeno atendido como vontade de comer pastel, às vezes um serelepe que eu via da janela e pedia a Deus que cuidasse dele porque estavam derrubando as árvores ao redor, e que sempre Deus me faz ver não só ele, mas ele e agora mais outro, os dois serelepiando pelas árvores, demonstrando que nenhuma oração é esquecida. Uma carona inesperada, mas desejada, um recurso pra pagar uma conta no valor exato, um emprego pra um amigo. Um convite pra um evento que eu sonhava em ir a poucas horas do início, sem precisar pagar. Assim fui aprendendo a tudo levar em oração e fui vendo que Ele cuida de mim. Só para dar alguns exemplos.
Por fim, quero contar que Deus me ajudou também na minha saúde mental e conseqüente vida profissional. Eu estava me prendendo a uma ladainha de que por ter deixado minha profissão pra investir na do marido estava com um prejuízo irrecuperável. Não consigo! Não dá mais! Fiquei um tempo tentando ‘me esconder’ atrás de um vitimismo misturado com uma incapacidade real que eu não sabia como lidar. Lógico que era real a coisa de eu ter deixado minha profissão e que sim isso acabou trazendo prejuízos, mas não era a verdade essencial. Pois, na verdade, eu tinha ido trabalhar com meu esposo, investido mais na profissão dele do que na minha por conta de outro problema, mais profundo em mim. Na verdade, foi mais fácil!
Me lembro de que orava pra Deus: sei que tem algo errado em mim, mas não sei o que é. Não é depressão, não é ansiedade! Tem ansiedade, mas não é isso um transtorno de ansiedade clássico! Então eu pedi pra Deus pra Ele ser meu médico! Pra ele me mostrar o que estava acontecendo. Eu ficava com vergonha das pessoas, pois o tempo ia passando e eu não conseguia resolver minha vida profissional. Na minha cabeça ainda tinha algo a ver com meu esposo e mais uma vez Deus mostrou que é ‘Tudo sobre mim e sobre Ele!” com seu imenso amor, primeiramente providenciou uma situação que eu pudesse fazer um diagnóstico psiconeurológico.
Nele descobri um transtorno que se chama TEA, que havia me incapacitado em diversas situações, trazendo prejuízos na minha vida social, estudantil e profissional. Ou seja: tinha nome tudo o que acontecia comigo, muitas pessoas passavam por isso, eu não era a única, não era um problema de preguiça nem de erro vocacional. Eu não era ansiosa nem difícil. Eu apenas tinha um funcionamento neurológico diferente. A partir deste diagnóstico, pago por uma amiga médica que desconfiou e quis que eu investigasse, entendi muitas coisas que passei na vida. Muita coisa fez sentido, inclusive questões familiares. Consegui parar de me cobrar, ao mesmo tempo que me senti mais confiante em trabalhar algumas habilidades que por não ter conseguido me atrapalhavam profissionalmente.
Esse diagnóstico foi um ponto de virada no meu deserto, me ajudou a me entender enquanto estudante e profissional, tudo que não consegui realizar por limitações ou falta de condições, problemas de comunicação e até algumas questões afetivas. Deus me mostrou aquilo que eu não entendia em mim e que faltava entender para que eu fizesse as pazes com a minha história e que eu pudesse acolher minha fragilidade, bem como fosse capaz de acreditar nas minhas forças.
Por ter diagnóstico de altas habilidades também, tinha capacidades de tarefas complexas ao mesmo tempo que tinha dificuldade com tarefas simples, me cobrava demais e tornava a carga mais pesada ainda. Deus começou a me ajudar a conseguir fazer as coisas simples, coisas cotidianas, coisas que são difíceis pra mim ou que nem percebo a necessidade de fazê-las por causa do TEA. Coisas que precisam de habilidade fina como abrir potes, parar de fazer algo (fazer pausas ou encerrar um dia de trabalho), começar a fazer algo (retomar uma tarefa), beber água, ir ao banheiro etc., cozinhar todos os dias pra mim. Inúmeras coisas, que só Deus sabia o custo pra mim.
Esse diagnóstico me fez voltar pra minha profissão, estou recomeçando, desde maio, a cada mês acontece algo que me faz entrar mais na profissão. E hoje consigo explicar para as pessoas algumas coisas que antes daria confusão como: esse meu ‘jeito’ não é pessoal, apenas não entendi, se a pessoa pudesse repetir o que disse ou eu dizer de outro modo; assumir o meu limite de interação social. Identificar o que me dá sobrecarga etc. E vejo que as pessoas se tornaram mais compreensivas, refiz amizades e muita coisa linda tem acontecido, que mostra que Deus não brinca de trabalhar. Ele trabalha de verdade, nunca para, não se cansa e nem dorme. Ele é o principal interessado na nossa cura, transformação e em nos tornar aquela pessoa que Ele sonhou que fossemos quando disse Sim pra nossa concepção.
Hoje sou outra pessoa, sem medo, curada da ferida do abandono, sabendo meus limites e forças, em paz com minhas escolhas (foi o que pude fazer), que está em busca de desenvolver habilidades, mas também de aprender a comunicar as limitações, mais tolerante com os limites dos outros também, que sabe que não pode carregar o mundo nas costas e nem tem que tentar isso, porque tem um Pai que cuida de tudo.
O Grupo Restaurar foi essencial nesse processo, porque no grupo aprendi o que é restauração pessoal e o que é restauração de casamento. São dois processos que se encontram em vários pontos, mas se diferem em muitos. Os dois fazem parte desta caminhada e só a dependência de Deus pode nos levar a vitória! Eu estava confundindo muito as coisas, mas no grupo fui sendo orientada e recebendo cajadadas até chegar aqui!
Giovana
Lindo testemunho , parece que você está me descrevendo.
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