Se você está passando pelo deserto espiritual no casamento pode ter certeza que passará por algumas fases desde a sua entrada até a saída. Antes do meu casamento ser restaurado eu imaginava que seriam apenas três estágios a serem percorridos até o tão esperado milagre, porém após a volta do meu esposo tive a plena certeza que para alcançar a restauração final é necessário passar por quatro fases bem definidas.
1º fase: INÍCIO, JUNTANDO OS CACOS
Essa fase com certeza é a pior de todas, primeiro porque é quando você se depara com o deserto, uma dor dilacerante, está ferida, magoada, assustada, humilhada, pensa no problema 24h por dia, tem a sensação de ter um bolor no estômago e uma faca cravada na garganta. Período de grande angústia e aflição, não sente vontade de se alimentar, metabolismo e coração acelerados. Medo do que está por vir, sozinha dentro de uma casa ou fora dela, sem ter para onde ir, muitos retornam para casa dos pais, tendo que enfrentar família e amigos, além do peso do mundo todo.
Segundo, sem discernimento espiritual desabafa com todos sobre o problema, fala mal do cônjuge e questiona como uma pessoa tão próxima que prometeu amar e respeitar pode trazer tamanho sofrimento; muitos se culpam por terem adulterado e destruído o casamento; outros se vitimizam por estarem passando por tanto repúdio. É comum o pensamento suicida, não porque a pessoa queira morrer, mas por encerrar esse sofrimento, a mente não para um segundo. A clausura é a saída imediata e a pessoa fica entocada em casa sem querer encarar a realidade.
Nessa fase a pessoa começa a buscar Deus desesperadamente, orando dia e noite, madrugadas para que o Senhor entre com providências em seu casamento que foi destruído sem dó e nem piedade. A realidade é muito dura de se enfrentar e as orações são mais de desespero, lamentos, murmurações, lágrimas envoltas nas memórias de como era a vida antes da separação e a decepção por tudo que aconteceu. O sol brilha lá fora, porém, os dias são sombrios, muitos adquirem a síndrome do pânico seguindo para depressão. A tristeza é vigente no olhar, sorriso já não existe mais, a fé é fraca, equilíbrio emocional zero, a esperança não tem vez e os pensamentos vagueiam findando numa afirmação “agora não tem jeito!”
A pessoa tenta uma reconciliação, implora pela volta, tenta ser o “Espírito Santo” na vida do cônjuge tentando demovê-lo da decisão, explana sobre a importância da família e do sofrimento dos filhos; das dificuldades causadas por uma separação. Após a negativa do cônjuge na reconciliação a raiva floresce e as brigas acontecem com muitas trocas de ofensas. Os filhos são usados como ferramentas contra o cônjuge que repudiou, as palavras são usadas para exporem os seus pecados rebaixando suas qualidades, demonstrando total descontrole das emoções da pessoa abandonada. As ofensas servem para chamar à atenção do cônjuge que se foi, porém essas atitudes causam ainda mais repúdio.
2º fase: ESTRUTURANDO A VIDA
Nessa fase a pessoa está um pouco mais forte, já consegue dominar suas emoções, tem equilíbrio e confiança, procurou ajuda e está ciente que sua luta é espiritual e não matrimonial. Com um pouco mais de discernimento já reconhece que com suas próprias mãos não consegue fazer nada e que Deus é a saída. Consegue sentir alegria nas pequenas coisas, já sai mais com segurança e consegue frequentar reuniões familiares, ir a festas de aniversários.
Amadureceu na fé e suas orações são mais seguras, confiantes e firmes, a dor existe, no entanto não mais dilacerante como antes. Reconhece que falou demais e procura não comentar sobre o assunto casamento, nem mesmo comenta do cônjuge com os amigos. A esperança chegar e a pessoa já consegue enxergar uma possível reconciliação. A mágoa já ficou para trás e o perdão é a palavra de ordem. O casamento passa a ser visto como o bem maior e preservá-lo é um dever como cristão, as orações e a busca são bem direcionadas e os propósitos, jejuns são fortalecidos nesse período.
As provas vêm, aumentam e muitas vezes a fé é testada ao extremo. Luto, perdas materiais e tribulações são corriqueiras, porém a pessoa está aprendendo que com Deus na frente não há perdas e segue confiante que Deus proverá. Começa a sonhar e projetar a vida de uma outra maneira, os valores que foram esquecidos durante o casamento são aflorados, começa a sonhar com um lar renovado e cuida para que isso aconteça, ora a Deus para ter a oportunidade de fazer diferente, valoriza o tempo em família e com os filhos. A arrumação da casa, dos filhos, de si mesma são feitas com outro olhar, o trabalho é executado com mais presteza, a pessoa aprimora-se em outras as áreas como a profissional, familiar e pessoal.
Deus é o seu consolador e conselheiro, prossegue firme com passos largos buscando a restauração do casamento, confiante que a saída do deserto é uma mera questão de tempo.
3º Fase: DESCANSO TOTAL NO SENHOR
A pessoa passou por tudo que o deserto poderia proporcionar, se fortaleceu no Senhor, o tempo passou, meses até mesmo anos, nada aconteceu quanto restauração, porém as mudanças foram visíveis, na fé, no crescimento pessoal e espiritual. O sofrimento já não existe mais, o Senhor limpou toda mágoa e não há mais dor. Nesse penúltimo estágio de descanso total nada mais parece acontecer, o emprego vai bem, a família já se acostumou com sua situação, amigos nem lembram mais do que passou e a vida caminha sem grandes percalços, a prova cessou.
O que houve ou não com o cônjuge não faz mais diferença alguma, pois o aprendizado sem ele foi grande e hoje a confiança em Deus está em primeiro lugar, na realidade o Senhor foi colocado no lugar que sempre deveria estar, num alto patamar. A restauração familiar não é algo primordial, a comunhão com Deus sim, tudo que vir depois disso é lucro. Os pensamentos não giram em torno do cônjuge e a vida segue com grandes mudanças.
A restauração pessoal aconteceu e a pessoa se espanta por ter chegado até aqui, o deserto foi árduo, difícil e árido, no entanto a pessoa sobreviveu as lutas e provas seguindo mais fortalecida que nunca. Sua cura foi tanta que a pessoa já não pensa mais em restauração de casamento e sua visão de mundo mudou, o medo já não faz parte da sua vida e seguir em frente é a palavra de ordem, com ou sem o cônjuge. A autoestima está elevada e o futuro almeja grandes vitórias.
O cônjuge que repudiou nesse período das 3 fases viveu toda liberdade que queria, envolveu-se no lamaçal do pecado, buscou afirmar-se a si todos os dias, que sua decisão era a mais correta, o casamento era uma prisão e ser feliz era sua meta. Lembrava de Deus, porém como uma figura bem distante que não se intrometia em sua decisão, já que sempre teve o livre-arbítrio. Utilizava as falhas do cônjuge para diminuir sua culpa e acreditava piamente que estava seguro em todo processo. A dureza do coração, as escamas nos olhos e os tampões nos ouvidos não o deixavam perceber a prisão espiritual, era a verdadeira marionete nas mãos do inimigo.
No início felicidade total, liberdade sem limites, vida desregrada, com o passar do tempo a aparente tristeza, o mundo já não é tão maravilhoso assim, estar longe de casa e da família começam a trazer sofrimento, as dificuldades chegam à porta, desemprego, falência, miséria, ou angústia, mal-estar, doenças, principalmente doenças na alma, os olhos começam a ser abertos e a presença de Deus se faz necessária, a urgência se instala. O choro é constante, mesmo sem a pessoa entender, as lembranças começam vir à tona como num filme, sonhos, a perda da família vem como fracasso. Até bater forte no peito a vontade de retroceder e tentar uma reconciliação,
Nessa fase, o cônjuge repudiado tocou a vida, se fortaleceu no Senhor, está mais bonita, a luz de Deus resplandece em sua face, as pessoas comentam as mudanças e elogiam sua conduta. Já o cônjuge que abandonou a casa sente-se derrotado, todos seus projetos foram por água abaixo e voltar é seu único desejo. De um lado o brilho de Deus e do outro o semblante da derrota.
A luta pela família aflora de tal forma que o cônjuge já extremamente arrependido começa a se reaproximar e para honra e glória do Senhor o perdão acontece e casamento é restabelecido.
4º fase: ACERTOS FINAIS E A RESTAURAÇÃO
O cônjuge voltou, a família e amigos estão felizes, alguns surpresos e outros “torcendo o nariz”, porém a voz de Deus reina e as coisas vão voltando a sua normalidade. Entretanto, passada a euforia do retorno, logo inicia-se a rotina e aí vem o perigo, o cônjuge que foi abandonado já não ora como antes, não jejua e nem faz propósitos com Deus como antes, já não aceita mais tantas cobranças em razão de tudo que passou; em contrapartida o cônjuge que regressou ainda não totalmente liberto e recebendo ataques do inimigo (que não quer perder), começa a pensar que não fez uma escolha tão boa assim, que os problemas não acabaram com a volta e que talvez fosse melhor não ter retornado.
Os desentendimentos se reiniciam, os ataques do inimigo são cada vez mais fortes, muitas notícias antes desconhecidas chegam para abalar o casal, o matrimônio novamente está sendo atacado. Nessa hora o cônjuge que orou e lutou pelo casamento tem que parar, respirar e repensar todo o seu trajeto desde o início do deserto. Será que foi tudo em vão? Será que nadou, nadou, nadou e morreu na praia? Nessa hora o discernimento sobre a luta espiritual deve ser mais uma vez definida, mágoa e rancores devem estar literalmente no passado, enterrados.
Recado importante: Muitas pessoas voltam ao início do deserto nessa fase, o estágio que seria a consolidação do milagre se torna um pesadelo onde a pessoa cai literalmente do 39º andar e para se reerguer não é fácil. Pensamentos atormentam a mente com ataques de que seguir sem o casamento é melhor. É nessa hora que a retomada das orações deve ser assíduas, lutar pelo fortalecimento da união, para que o milagre seja concretizado em sua essência, sem interferência externas, selando assim efetivamente a paz e o amor do matrimônio por Cristo Jesus. Aqui deve pesar os valores, a fé e obediência.
A pessoa que iniciou a luta pela restauração é a parte mais forte da relação e escolhida por Deus para ir até o fim, pelo conhecimento adquirido e pela experiência obtida com o Senhor. A firmeza, a fé e obediência são fatores essenciais, como ponto crucial a segurança em Deus e a responsabilidade de colocá-lo como alicerce espiritual do novo lar, para que nenhuma tempestade no futuro venha derrubar. Passando essas provações o casamento enfim está restaurado pelo todo poderoso e inabalável diante das provações. Por isso, afirmo sem medo de errar: “NOSSA CAMINHADA COM DEUS É ETERNA E NUNCA CESSA, ASSIM COMO NOSSAS ORAÇÕES NÃO PODEM CESSAR JAMAIS!”
Mesmo que tudo aparentemente esteja bem, nossos joelhos devem estar no chão e nossa cara no pó orando por nossa família, nosso casamento e pela paz,
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha” (Mateus 7:24-25)
Lute com fé e não esmoreça diante das dificuldades, as fases são necessárias para seu crescimento espiritual, às vezes pensamos que não vamos aguentar tamanha prova, porém Deus está ao nosso lado, zelando por nós. Com nossas mãos não conseguimos fazer nada, temos que evidenciar a magnitude do Senhor, o milagre vem da parte Dele.
Enquanto o cônjuge estiver opresso “deixe o ir”, não tente impedi-lo nem segurá-lo, isso trará mais sofrimentos, ao invés disso entregue sua causa ao Senhor e descanse, o tempo da luta fará com que as coisas entrem no lugar. O cônjuge opresso só irá até onde o Senhor permitir, lembre-se que a plantação é opcional, todavia a colheita não. Lembre-se até o livre-arbítrio pode ser utilizado para levá-lo ao fundo do poço e para sair de lá, somente se estiver firmemente agarrado nas mãos do todo poderoso.
O Senhor não está inerte a tudo que está acontecendo, Ele é bom, justo, fiel e poderoso, no tempo certo a vitória vem.
Que Deus abençoe a todos, fiquem na paz!
Sol – blog Restaurar Casamentos
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